Pois é, desisti de
participar do patético teatro societário brasileiro, pelo menos no seu “ato”
maior, o mais enfadonho: as assembleias anuais de acionistas.
Participando nos últimos
anos ativamente das assembleias anuais com uma carteira de 33 grandes empresas
(com pouco mais de R$ 100,00 investidos em cada posição), as dificuldades no
exercício do voto à distância e o descaso com que acionistas são tratados
nesses encontros me fizeram desistir. Acreditem, até a badalada AGO da Natura
não é lá essa Brastemp....
Já mencionei em várias
postagens (como em 05/5/18 - https://www.blogdagovernanca.com/2018/05/assembleias-de-acionistas-o-patetico.html,
em 23/4/18 - https://www.blogdagovernanca.com/2018/04/o-recado-dos-boletins-de-voto-distancia.html e
em 6/1/18 - https://www.blogdagovernanca.com/2018/01/la-vem-2018-saga-de-exercer-o-voto.html)
que as AGOs são eventos para “cumprir tabela”, não existindo interesse dos
administradores em interagir com os acionistas presentes. Prestação de contas
antes da votação das demonstrações financeiras é algo raríssimo, por exemplo.
Vale lembrar que é muito comum termos a presença de CEOs e CFOs que entram
mudos e saem calados das assembleias, cujo comando é delegado a advogados
famosos, de honorários altíssimos, encarregados de seguir a ferro e fogo, doa a
quem doer, o roteiro bolorento “ata na forma de sumário-votação relâmpago”.
Fica
a dúvida: os administradores delegam o comando da AGO a agentes externos por
que não tem competência ou por que tem medo de encarar os investidores?
A criação de um sistema
eletrônico que facilite o voto à distância, que deveria ser uma prioridade da
B3 e da CVM, é um sonho distante. Ao invés de um sistema eletrônico disponível
para todos os custodiantes, o que depende da B3 (o Itaú não esperou criou um sistema
para seus clientes), o que temos hoje é um modelo arcaico e burocrático, que
obriga investidores a assinar e rubricar folha por folha dos boletins de voto,
digitalizando-os para transmissão por email para o custodiante, que então faz a
conferência da assinatura do cliente para posterior encaminhamento às empresas.
Ou seja, na era das negociações eletrônicas ainda assinamos papéis para conferência
de assinatura. Com um detalhe maquiavélico: se esquecer de rubricar uma única página
do boletim o voto é invalidado !!! Nem cartório de notas em Maranguape é tão
exigente. Nada comparável com o descrito em mensagem da Amec do dia 26/10/18
sobre a evolução do mercado de capitais na Índia (leia no link https://www.amecbrasil.org.br/noticias-de-stewardship-13/).
Batalha perdida? Nada
disso. O objetivo maior quando montei a carteira era questionar nas assembleias
a falta de transparência dessas empresas sobre a remuneração de seus
administradores, algo que foi superado com a derrubada da famigerada liminar
IBEF.
E ainda manterei uma meia
dúzia de papéis em carteira, pois mantenho alguns processos na CVM questionando
o comportamento de determinados administradores e alguns acionistas
controladores.
Abraços a todos,
Renato Chaves
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