Jabuti não sobe em árvore
Se vocês virem por aí um
jabuti em uma árvore tenham a certeza que foi gente ou foi enchente que alterou
o caminho natural do bichinho.
Parodiando o ditado, um
transeunte da Av. Faria Lima não pode surgir como conselheiro de administração
de uma empresa de repente: se está no Conselho é porque recebeu um convite e
aceitou... Se o nome está na ata de eleição do Conselho foi gente que colocou.
Como o bom funcionamento
de um Conselho de Administração depende do bom desempenho individual de seus membros e da capacidade de todos os conselheiros atuarem sob a forma de
colegiado, parece que os recentes e constantes escândalos corporativos reforçam
o sentimento de que os conselhos vêm falhando nas suas principais atribuições:
definir estratégias (e não referendar cegamente estratégias definidas pelo
CEO), escolher e monitorar executivos.
Esse sentimento pode ser
resumido pelas palavras do finado Sir Adrian Cadbury, em entrevista concedida à
Sandra Guerra em 2013, que consta do recém-lançado livro “A caixa-preta da
Governança” (Ed. Best Business, fl.36): “Quando começamos a análise pelos
escândalos, parece que os conselhos não estão cumprindo o papel deles. Não
fazem as perguntas certas ou não desempenham adequadamente as funções de um
conselho.”
Pois da mesma forma que um
profissional deve avaliar bem um convite para entrar em um Conselho (quais são
os valores praticados pela organização e seus sócios controladores?), uma visão
crítica sobre a atuação do órgão pode levar o conselheiro a sair, em uma
atitude corajosa de renunciar antes do término do mandato.
Tal atitude, incomum por
aqui, deve ser vista pelos investidores com muita preocupação, especialmente
quando a exposição de motivos endereça para falhas nas atribuições de
monitoramento da gestão, gestão de riscos, controles internos e transações
entre partes relacionadas, além da irrelevância do Conselho nos processos
decisórios da Cia. Nessa linha temos um bom exemplo na carta renúncia de um
conselheiro de administração da Mahle Metal Leve S.A., anexa à ata datada de
28/6, disponível em http://siteempresas.bovespa.com.br/consbov/ArquivoComCabecalho.asp?motivo=&protocolo=569480&funcao=visualizar&Site=C.
Cuidado ao entrar e
ceticismo na atuação, sem qualquer preocupação em construir consenso em todas
as decisões (por exemplo, discordar do montante de dividendos não é crime), são
duas posturas que evitam surpresas desagradáveis.
Resumindo, busco mais uma
citação apresentada por Sandra Guerra em seu livro (fl. 33): “Os melhores
conselhos de administração são lugares muito desconfortáveis e é assim que
devem ser”, sir Christopher Hogg (ex-presidente do Financial Reporting
Council).
Abraços a todos,
Renato Chaves
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