E ninguém sabia de nada – o “mercado”.

 

“Jabuti não sobe em árvore, se está lá foi gente ou foi enchente” (autor desconhecido).


“Os números não metem, já os seres humanos...” (autor desconhecido).


O “mercado” (os grandes investidores/gestores de recursos), acionistas “controladores” (sim eles existem) e acionistas de referência, conselheiros de administração e fiscal, membros dos comitês de auditoria e finanças, auditores internos e externos, executivos, agências de rating e o poderoso Xerife: ninguém sabia de nada.


Estamos diante de um caso de cegueira deliberada ou memória curta (https://www.seudinheiro.com/2023/empresas/alem-das-americanas-amer3-empresas-de-lemann-socios-3g-historico-problemas-rsgp-acnn/) ? Será que o “mercado” ficou enfeitiçado com o sonho grande e dividendos na conta?


Vamos começar pelo “mercado” e seus analistas que ganham a vida debruçados sobre números/relatórios. Todos bem formados, informados e ávidos por achar uma preciosa informação que leve a sua instituição a ganhar dinheiro antes do resto do mercado: se tem algo bom que ninguém viu, compra o papel. Se o analista descobre um podre ou se a empresa esconde informação, recomendação de venda. E assim se forma uma tese de investimento, ou de desinvestimento.


Ainda que existisse certa desconfiança quanto à postura agressiva dos acionistas “controladores” (como dizem os gaúchos já peleei muito nas AGOs da Cia. quando questionava a ausência de informações sobre a remuneração de executivos), algo tratado por analistas de forma anônima na matéria do Valor Investe que tentou explicar a recente reestruturação societária “meio torta” (Valor Investe de 26/6/21 - https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/empresas/noticia/2021/07/26/americanas-cai-20percent-em-uma-semana-e-mercado-busca-entender-tombo.ghtml), a única voz a gritar abertamente contra a governança/postura arrogante da Cia. foi a gestora Fama que, em seu relatório de gestão do 3º trimestre de 2019, afirmou (se conhecerem outro exemplo me avisem por favor):

 

“No setor de varejo, optamos por zerar a nossa exposição em Lojas Americanas por distintas razões: (i) o aumento da concorrência tanto no segmento online (Amazon) quanto no offline (Cosan + Femsa) e (ii) questões ligadas a ESG, seja pela contínua alta rotatividade de executivos, seja por algumas evidências de relacionamento desgastado na cadeia de suprimentos, seja por certa opacidade das demonstrações financeiras e constante dificuldade de acesso à companhia...” 


Ou seja, o discurso sobre ESG na grade maioria das gestoras da Faria Lima/Leblon não passa de blábláblá, pois o que vale é o resultado do negócio/dividendos distribuídos (o que dizer das empresas corruptoras nas carteiras...). Parece que assinam sem ler os códigos de Stewardship.


Aliás, aqui vai uma crítica direta, a postura agressiva da Cia. com seus fornecedores era vista até com bons olhos por alguns analistas, pois aumentava o “prazo de pagamento a fornecedores”, com consequências positivas no capital de giro/NCG. Já fui conselheiro fiscal de uma indústria que vendia seus produtos nas bagunçadas gôndolas da varejista, entre chocolates e lingerie, e era muito comum ouvirmos “esse mês a Americanas não pagou”, apesar das DFs revelarem que a empresa superG estava com o caixa abarrotado de dinheiro. Pura trambicagem, má fé.


Na próxima postagem vou escrever linhas tortas sobre os acionistas “controladores” (sim eles existem).


Abraços fraternos,

Renato Chaves

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