Sustentabilidade combinada com corrupção e “evento geológico”.
No que depender da prévia do Índice de Sustentabilidade da B3 (o ISE para
janeiro/22) a combinação existe sim; parece que a régua de seleção está quase
tocando o chão (https://www.b3.com.br/pt_br/market-data-e-indices/indices/indices-de-sustentabilidade/indice-de-sustentabilidade-empresarial-ise-composicao-da-carteira.htm).
Uma dessas “empresas-exemplos-de sustentabilidade” tem 3 parágrafos de
ênfase dos auditores externos nas DFs de 31/12/20, algo que certamente contribuiu
para tão “rigorosa” seleção. Os dois primeiros parágrafos tratam de casos de
corrupção (o ex CEO foi condenado nos EUA com multa e detenção), enquanto o
último parágrafo usa o eufemismo “evento geológico” para tratar um desastre
ambiental que carrega uma provisão de R$ 9,2 bilhões (isso mesmo, bilhões !!!).
Nada que uma maquiada na governança corporativa não resolva: coloca uns
figurões no conselho de administração, cria uma diretoria de compliance e
sustentabilidade que tudo fica limpinho novamente. Até porque o acionista
controlador, que já foi preso em outro caso, certamente não sabia de nada: foi
tudo culpa do Zeca.
Outra “campeã” selecionada na prévia da carteira está atolada em casos
de corrupção, algo que mereceu a emissão de um parecer do auditor externo na
DF-31/12/20 com ressalva (único caso entre as empresas do Ibovespa): os termos
de autocomposição e acordos de leniência revelam um esquema que envolveu mais de
15 executivos (o acionista controlador não sabia de nada, tá ok – grupo de 15
meliantes é considerado “bando” ou “OCRIM”?), sendo que uma das empresas do
grupo foi considerada inidônea para contratar com um Estado da região Sul. A
empresa pode não ser sustentável, mas ninguém pode falar que não é criativa, já
que criou uma verba para “incentivo à colaboração”, uma espécie de “bônus
corrupção”. Tudo isso sob o olhar sonolento do Xerife; periga só encontrar
executivo falecido quando um dia, quem sabe, os processos sancionadores forem julgados,
se forem.
Resumindo: esse ISE está mais sujo que pau de galinheiro, o Xerife
dorme, o blábláblá ESG continua firme e forte e os acionistas minoritários (os “minorotários”)
têm que pagar as suas parcelas nas multas e “bônus corrupção” para executivos
meliantes sem reclamar.
Abraços fraternos,
Renato
Chaves
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