Ética, um conceito relativo.

 


Notícia que passou despercebida demonstra a pronta ação do Banco Itaú na demissão de funcionários que teriam solicitado indevidamente o auxílio emergencial do Governo Federal (veja o link em https://www.cnnbrasil.com.br/business/2021/03/04/itau-demite-50-funcionarios-que-pediram-auxilio-emergencial).  Código de ética serve para isso, certo?


Reparem que a instituição é uma adepta fervorosa dos aspectos ESG em seus negócios, tanto para operações de crédito como para investimentos (veja o link https://www.itau.com.br/sustentabilidade/show.aspx?idCanal=xSx/EiFcL+voOxmvHyBX5w==&linguagem=pt), e daí vem a pergunta provocativa: como fica a decisão de investimentos quando vemos a alocação em ações de empresas corruptoras, como a gigante petroquímica controlada pela turma do Marcelinho da Bahia (aquela mesma cujo ex CEO/ ex queridinho do mercado admitiu recentemente ao Departamento de Justiça dos EUA ter pago US$ 250 milhões em propinas); a empresa que transformava moedinhas de pedágio em propina; a empresa aérea que “financiava” as peripécias de “Dudu Bangu 8” na Câmara dos Deputados com contratos de propaganda por anúncios nunca veiculados em sites do “lustroso” deputado; a farmacêutica que bajulava famosos senadores com pacotes de dinheiro sujo, incluindo o imponente bigodudo da famosa frase “com o Supremo, com tudo”; umas ações na área de telecomunicações, em empresa famosa por “interagir socialmente” com o ex senador “Mineirinho” que usava uma ONG comandada por sua família; e por fim, aproveitando o mais recente escândalo de pagamento de propina para servidores da Receita Federal, investir em operadores de planos de saúde e pacotes de turismo.


“Oportunidades” é que não faltam nesse “segmento de mercado”. Investidores são complacentes com as grandes empresas, valendo o discurso de que as empresas vão melhorar, ficarão “limpinhas” depois dos acordos de leniência e uma “maquiada” na gestão, com a troca de executivos/conselheiros por gente com fama no mercado. Tem até gente famosa chafurdando os pés nessas empresas que mantem o DNA/acionista controlador original.


Querido leitor, você compraria um carro usado do Marcelinho da Bahia? Acho que nem o pai dele compraria. Vale lembrar que a CVM não puniu os executivos que operacionalizaram esses grandes esquemas de corrupção: o defunto está lá na 7/9 (valores pagos nos “acordos de leniência” estão nas DFs), os assassinos são conhecidos (a “empresa” não corrompe ninguém – “alguém” assinou cheques/contratos/ordenou a remessa de malas de dinheiro), mas os meliantes (CPFs) continuam aptos para atuação em empresas de capital aberto.


Já sei, investidores institucionais declaram que não investem em empresas que usam trabalho escravo. Kkkkk, mais hipócrita impossível. Só faltam declarar que não investem em empresas cujos seguranças matam clientes na pancada. Epa, não, peralá, nessas empresas pode investir, já que fazem parte do índice Ibovespa...


Parece que a regra é “falar grosso com os pequenos e falar fino com os grandes”. Ou melhor, não falar nada com os grandes. Seriam clientes do conglomerado?


Abraços fraternos,

Renato Chaves

 

P.S.: esse texto nasceu de uma conversa com um querido leitor que, por questões profissionais, permanece no anonimato e não pode receber o merecido crédito. Agradeço a colaboração e desejo que venham outras sugestões desse e de outros “conteudistas fantasmas”.

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