Os ITRs ajudam ou atrapalham?

No bojo da discussão sobre a redução do prazo para apresentação dos ITRs, recentemente alterado pela CVM (a instrução nº 511 manteve o antigo prazo de 45 dias), surge a discussão sobre os benefícios e possíveis malefícios da divulgação de informações financeiras intermediárias.
Devo admitir que (como diria Tim Maia: sou réu confesso), quando da discussão para construção da Instrução nº 480, fui simpático à ideia de redução do prazo para apresentação dos ITRs para 30 dias. Afinal, a alegação das empresas de que o prazo seria muito curto não parecia razoável diante dos enormes investimentos em informatização, especialmente nos modernos sistemas de gestão empresarial (os ERPs). Mas a observação atenda da realidade das empresas, especialmente daquelas que consolidam informações de empresas coligadas/controladas (algo muito comum), mostrou que as empresas participadas, muitas delas de capital aberto, utilizam legitimamente o prazo regulamentar até o limite, inviabilizando a elaboração dos ITRs por suas controladoras. Seria insano exigir um prazo de uma empresa que depende de outraempresa que utiliza a mesma regra/prazo.
E os benefícios e possíveis malefícios da divulgação de informações financeiras intermediárias? Não restam dúvidas de que o ITR possibilita ao investidor acompanhar mais de perto a gestão, mesmo sabendo que se trata de um relatório que recebe um tratamento de revisão limitada da auditoria externa, por exemplo. Por outro lado, dizem os críticos, a pressão pela divulgação de bons resultados de curto prazo, incentivada pela imprensa e investidores com atuação frenética no mercado, seria a responsável pelo desvio de foco dos executivos. Um sintoma dessa “anomalia” seria o “endeusamento” das reuniões trimestrais com analistas, onde os executivos gastam horas e horas explicando o desempenho de curto prazo, em detrimento das assembleias anuais, oportunidade única para discussões estratégicas com os investidores – e acreditem, tem CEO que nem aparece na AGO !!! Nessa linha, os investidores que analisam detidamente os fundamentos das empresas não compram ações olhando para resultados trimestrais, mas o fazem porque entendem que a estratégia de longo prazo, as perspectivas específicas do negócio e a qualidade dos executivos fará com que o preço da ação suba, sempre com uma perspectiva de 12, 18 meses ou até mais.
Resta saber se o mercado realmente dá valor aos ITRs. Sabendo que alguns mercados adotam relatórios quadrimestrais e ainda uma ideia que me foi apresentada reservadamente por um visitante habitual do Blog, que defende relatórios intermediários semestrais, surge a enquete de encerramento de ano para capturar a opinião do nosso grande público. Sei que analistas de bancos e corretoras vão torcer o nariz para o debate (inclusive meus amigos que trabalham com a maravilhosa vista da Baía da Guanabara), mas o objetivo maior do Blog é fomentar o debate....
Quanto ao prazo, a CVM demonstrou flexibilidade e sabedoria. Prevaleceu o bom senso.
Abraços a todos,
Renato Chaves
P.S.: mudar de opinião é aceitável, exceto quanto ao time de futebol (e viva o Glorioso Botafogo, sempre).

Comentários

  1. Caro Renato
    Recentemente escrevi um post sobre o assunto "A importância exagerada dada ao resultado trimestral" (http://www.valor.com.br/valor-investe/o-estrategista/1055548/importancia-exagerada-dada-ao-resultado-trimestral).
    Os ITRs são necessários, mas sua importância deveria ser mitigada.
    Abraço
    André Rocha

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  2. Caro André,
    Acompanho suas colunas no VALOR com grande atenção. Achei muito interessante a sua abordagem sobre o reduzido número de empresas que sofreram mudanças estruturais no curto prazo e a formação dos preços-alvo das ações. Certamente não será um resultado ruim no trimestre que fará o analista mudar de opinião sobre determinada ação, mas sim a percepção de que alguma variável relevante do negócio sofreu uma alteração significativa.
    Parabéns pelo seu trabalho de educação do mercado.
    Um abraço,
    Renato Chaves

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  3. Penso que não se pode falar em Governança Corporativa, sem que haja absoluto rigor na administração da empresa.
    Não quero provocar questionamentos, mas a trimestralidade é imprescindível.
    Afinal de contas, estamos em período de grandes volatilidades e os acionistas necessitam saber o quê de fato está acontecendo na empresa, em tempo real.

    Paulo Sier

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