Seu voto vale nada, ou quase nada.

 

Esqueça o conceito elementar da Governança Corporativa – uma ação, um voto – aquele que alinha interesses de todos os proprietários, pois trata unidades monetárias de forma igual: o meu real investido na AMBEV é igual ao real do fundo de pensão das professoras do Nebraska e do bilionário brasileiro JP.


Notícias da terra que inventou o futebol (mas que não ganha nada), e da Rua 7 de Setembro, dão conta que o supervoto ganha força, para preocupação do pessoal da AMEC e ICGN (vejam os links no final).


Parece que o excesso de liquidez e juros baixos fazem os gestores de investimentos aceitem comprar qualquer papel, na tentativa de garantir rentabilidade (própria e de seus clientes). Supervoto é tech, supervoto é pop...


Uma ação, dez votos: gaiato quem oferece, bobo é quem compra. Visionários e carismáticos, esses controladores, especialmente de empresas de tecnologia, merecem um tratamento diferenciado sob a ótica econômica, dizem os bancos de investimentos que viabilizam tais negócios. Pera lá: essa diferenciação não aparece na precificação do IPO, quando investidores aceitam pagar múltiplos de zilhões de vezes o EBTIDA? Fica parecendo que estão fazendo um favor aos investidores, dando-lhes a oportunidade de compartilhar do convívio e sabedoria desses seres iluminados. Quem sabe não oferecem um voucher para um voo pela estratosfera para os acionistas de 2ª categoria?


Ah, mas e se tiver desalinhamento entre sócios? Bem, para a grande maioria desses investidores míopes basta vender o papel e partir para outra, lembrando-se de colocar o assunto na resenha do cafezinho do próximo congresso de governança corporativa, já que congressos do gênero normalmente tratam de amenidades.


Está insatisfeito com os rumos da empresa e quer eleger um conselheiro de administração, no melhor estilo Robert Monks? Sinto muito, não vai dar: sua ação vale um voto, mas a ação do controlador vale 10 votos. Desconfia que o controlador está usando indevidamente os recursos da Cia. e quer instalar um conselho fiscal? Reclama com o Papa Francisco.


Por aqui, já vemos sinais “modernosos” na Autarquia de que o voto “plural”, o voto tech, o voto pop, ganha força (veja matéria da jornalista Mariana Durão no link https://economia.estadao.com.br/noticias/governanca,novo-diretor-da-cvm-e-a-favor-do-voto-plural-e-do-fim-da-exclusividade-de-agentes-autonomos,70003527846).


Mas nada de desanimo, pois se temos estoque de bambu, não faltará flecha.


Abraços fraternos,

Renato Chaves

Links de interesse: (i) reportagem do jornal Valor em https://pipelinevalor.globo.com/mercado/noticia/londres-se-rende-ao-supervoto-para-reter-techs-na-bolsa.ghtml), (ii) Carta AMEC em https://www.amecbrasil.org.br/wp-content/uploads/2020/10/CARTA-AMEC-VOTO-PLURAL-NO-BRASIL-V01.pdf, (iii) manifestação do ICGN em https://www.icgn.org/sites/default/files/Supervoting%20shares%20for%20Brazilian%20companies%20PUBLIC_1.pdf, (iv) palestra do advogado Rick Fleming na conferência ICGN-Miami 2019 (https://www.sec.gov/news/speech/fleming-dual-class-shares-recipe-disaster).


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