Indicadores de ESG dos formulários de referência: o que realmente interessa.

A inclusão de indicadores que buscam identificar a quantidade de empregados por autodeclaração de cor ou ração e por autodeclaração de gênero (item 10.1.a do novo formulário de referência) representa uma grande evolução, que certamente ajudará os investidores a identificar as empresas que realmente privilegiam a diversidade e não fazem o “blábláblá ESG”. E aqui entendo que devemos lançar nossos holofotes para o percentual de negros e mulheres em cargos de liderança (veja na matéria da jornalista Mariana Barbosa no link https://oglobo.globo.com/blogs/capital/post/2023/07/dentre-as-empresas-do-ibovespa-93percent-nao-tem-nem-10percent-de-negros-em-cargos-de-lideranca.ghtml).

Vou abrir um parêntese para tratar do que me parece a falta de compromisso de algumas empresas com o preenchimento dos formulários – universo de 82 empresas que compõem o Ibovespa. Raizen e São Martinho simplesmente ignoraram a obrigação (minha data de corte foi 30/06/23). E como explicar o fato de algumas empresas apresentarem 100% de resposta “prefere não responder” para declaração de cor/raça (Localiza, Minerva e Rede D’Or – nessas empresas a resposta ““prefere não responder” para declaração de gênero foi 0%) e para declaração de gênero (Klabin). Faltou engajamento da alta Administração? Estranho, muito estranho. Fecha parêntese.

Outra observação que faço diz respeito à autodeclaração. Quem não dá importância a esse tipo de questionário pode ser impedido de visitar o Pateta na Disney... tem que ter responsabilidade com o que declara.

Pois bem, feita a transformação dos números absolutos que são apresentados originalmente para percentuais, chegamos aos seguintes destaques: a empresa campeã em diversidade de negros em cargos de liderança foi a Magazine Luiza, com 32,65%, empresa que já se destacava por criar um programa de trainee exclusivo para negros (https://ri.magazineluiza.com.br/Download.aspx?Arquivo=MQIFpHE6v0pa1c+RcgMp6A==). Reparem que o número de empresas com percentuais acima de 10% é muito pequeno – somente 6 entre as 82 empresas do Ibovespa.

POSITIVOS - NEGROS EM CARGOS DE LIDERANÇA

ASSAI/SENDAS

13,45%

BRASKEM

12,23%

CCR SA

13,39%

CSNMINERACAO

29,61%

MAGAZ LUIZA

32,65%

SID NACIONAL

32,47%

 

NEGATIVOS - NEGROS EM CARGOS DE LIDERANÇA ABAIXO DE 2%

ALPARGATAS

0%

BBSEGURIDADE

0%

BTG

1,96%

CEMIG

1,02%

COSAN

0%

ENEVA

1,09%

EZTEC

0%

IRBBRASIL RE

0%

ITAUSA

0%

LOCALIZA

0%

MINERVA

0%

NATURA

1,86%

REDE D OR

0%

RUMO

1,86%

SANTANDER

1,70%

WEG

0,27%

 

Já no quesito “mulheres em cargos de liderança” o destaque foi para a Itausa, com 75%. Convém ressaltar que se trata de uma empresa holding, com poucos funcionários (80) e somente 12 líderes, números bem diferentes do 2º colocado (Grupo Soma com 67,63%), com 1.137 líderes, sendo 769 mulheres, e quase 14.000 funcionários no total.

 

POSITIVOS - MULHERES EM CARGOS DE LIDERANÇA acima de 50%

AREZZO CO

52,52%

COGNA ON

55,14%

COSAN

52,38%

FLEURY

66,25%

GRUPO NATURA

58,31%

GRUPO SOMA

67,63%

HAPVIDA

66,86%

IGUATEMI S.A

58,96%

ITAUSA

75,00%

RAIADROGASIL

62,87%

REDE D OR

63,48%

YDUQS PART

53,37%

 

NEGATIVOS - MULHERES EM CARGOS DE LIDERANÇA ABAIXO DE 10%

KLABIN S/A (100% preferiram não responder)

0,00%

BCO DO BRASIL (80,94% preferiram não responder)

7,05%

PETROBRAS (92,95% preferiram não responder)

2,32%

SABESP (76,79% preferiram não responder)

7,56%

ITAUUNIBANCO (88,68% preferiram não responder)

5,20%

 

Consolidar e revelar esses números ajuda a desmascarar um pouco da hipocrisia das corporações. Como bem diz meu guru no tema ESG, no final do dia a hipocrisia vai continuar, com as empresas lançando “Sustainability linked bonds” com meta de 20% de pessoas negras em cargos de liderança em 2030; lá na frente inventa uma desculpa e paga o investidor, que ficou satisfeito porque comprou um título “bonitinho” e saiu bem na “foto”.

Abraços fraternos,

Renato Chaves

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