Cobramos ética na política, mas e no mercado de capitais?

Imagine a cena de um certo prefeito paulista (atual deputado federal) desviando recursos de uma obra superfaturada para uma conta em um paraíso fiscal britânico. Agora imagine o policial militar que usa a informação privilegiada da realização de uma blitz para proteger um famoso traficante. Repulsivo, vocês não acham?

O uso do cargo para a prática de crimes é repudiado por todos os homens de bem, menos no mercado de capitais. Sim, isso mesmo, pois verdadeiros bandidos usam o cargo que ocupam para realizar operações com ações e todos acham normal que esses “elementos” (é assim que supostos meliantes são tratados nos meios policiais) assinem termos de compromisso com a CVM para engavetar as acusações. Sem inabilitação eles continuam livres para atuar, deixando os investidores tão desprotegidos quanto os cidadãos que pagam impostos.

A aceitação de mais um “terminho” de compromisso no dia 25/6 traz o perdão, sem confissão de culpa, a um Gerente de Relações com Investidores e um Analista de Relações com Investidores que foram acusados de uso de informações privilegiadas na negociação de ações da empresa onde trabalhavam. Na mesma linha deveríamos achar normal o ex-prefeito propor um termo de compromisso para apagar os desvios passados e continuar a atuar na política livremente.

Como diria Milton Nascimento em “Trem de doido”:
Nada a temer, nada a combinar
na hora de achar o meu lugar no trem
e não sentir pavor dos ratos soltos na praça.

Que tal copiarmos o mercado norte-americano e mandarmos meia dúzia de insiders para a cadeia? Pelo menos inabilitá-los para atuar no mercado... Ou será que só interessa copiarmos de lá os pacotes de remuneração para administradores?

Os ratos estão soltos na praça; sugiro que cada investidor/gestor crie a sua lista negra de insiders que assinaram termos de compromisso, uma seleção natural diante da passividade “monetarista” do xerife.
Abraços a todos e um bom final de semana,

Renato Chaves

Comentários

Postagens mais visitadas