1 ano do Blog da Governança: murmurando tímidos protestos

Disciplina de monge tibetano do Templo de Jokhang (que vivem no exílio até hoje!!) para completar um ano de postagens semanais, sem interrupções, e com direito a algumas “edições” extraordinárias (55 no total), como nos casos da famigerada liminar dos frequentadores do Padovano/D’Amici* contra a Instrução CVM 480 e da recente operação da Polícia Federal/CVM no Rio Grande do Sul *(traduzindo: os executivos de finanças cariocas - ou seriam executores de finanças?).
Três aspectos me levaram a criar o Blog: (i) defendo o compartilhamento de experiências, seja lá do conhecimento que for (nada é tão valioso mereça ser levado para o caixão... ); (ii) gosto de escrever sobre o que gosto e ficava furioso com a torturante limitação no número de caracteres imposta por jornais e revistas e (iii) os espaços na imprensa para um debate aberto sobre temas da GC é extremamente limitado – prevalece a dinâmica de polemizar em cima de operações em andamento. Visitando alguns blogs de amigos em uma tarde chuvosa de domingo, notei que criar um blog era algo extremamente fácil, até para quem não é um expert em computação, e muito barato – só pago US$ 10,00 anuais pelo endereço na WEB.
Mas li em algum lugar que manter um Blog é uma maneira malandra, até preguiçosa, de organizar as ideias para um futuro livro. Quem sabe não pego carona com o jornalista que juntou em um livro as suas crônicas publicadas durante anos em jornais e foi parar no Petit Trianon, com direito a fardão de imortal? Muitos perguntam: e o tempo para criar? A escolha dos temas depende muito do vento que sopra no Posto 6 (quase sempre agradável...), mas procuro sempre conectar a minha lista de assuntos com o cotidiano da GC – aquilo que saiu nos jornais durante a semana. Mas confesso que por vezes não resisto e surfo na perigosa onda de comentar situações específicas, como foi o caso da “Batalha dos Croissants” e da explosão de bueiros no Rio (a velha máxima “o que vem de baixo não me atinge” não funciona por aqui); mas sempre fazendo uma ligação com os conceitos e os pilares das boas práticas de GC, afinal somente os agentes diretamente envolvidos e os jornalistas de plantão podem narrar com assertividade tais “causos”.
E onde arrumar inspiração? Como costumo publicar as postagens nas noites de domingo, o que não falta é inspiração no agitado final de semana da Cidade Maravilhosa: sol, praia e montanha, sem falar nas atuações do glorioso Botafogo (nota isenta do autor: continua sendo o time que mais cedeu jogadores para a seleção brasileira nas Copas).
Existem temas “especiais”? É claro, como a atuação do conselho fiscal, sucessão de executivos, publicação de demonstrações financeiras em jornais, o ativismo dos gestores/investidores institucionais (os sérios, com interesses de longo prazo e não os aventureiros de plantão que compram e vendem ações como batata doce na feira) e a “independência” dos conselheiros independentes. Mas devo admitir que tenho um “carinho” todo especial pelos casos de insider trading, especialmente quando envolvem administradores. É o tipo de gente com quem não divido uma sala de reunião, evito até usar o mesmo elevador; se algum desses, livre para atuar no mercado após a assinatura de um singelo termo de compromisso, um dia vier a participar de um dos fóruns de governança corporativa onde atuo, peço para sair (com o devido registro em ata para deixar não passar em branco). Quem sabe o Projeto de Lei 1851/2011 (comentado na postagem do dia 25/8) não muda a triste realidade e pelo menos as apurações de infrações graves são concluídas?
Mas o que realmente procuro compartilhar com os visitantes, em uma linguagem pra lá de relaxada (como um bate-papo no Posto 5 ao lado do poeta Drummond) é um pouco da experiência adquirida com os vários chapéus que uso/usei ao longo da minha jornada no mercado de capitais: (i) como conselheiro fiscal eleito por acionistas minoritários; (ii) como conselheiro de administração eleito por acionistas controladores em empresa com acordo de acionistas; (iii) como gestor de participações acionárias de um grande investidor institucional com uma carteira de quase uma centena de empresas como controlador e minoritário (participando da construção de acordos e de brigas dignas de “Faroeste Caboclo”); e (iv) ultimamente como diretor estatutário de uma companhia de capital aberto. E paralelamente a tudo isso, atuando em diversos fóruns que tratam de GC – IBGC, AMCHAM, ICGN (menos do que deveria...), audiências públicas da CVM, OCDE, além de contribuir com jornais e revistas especializadas e defender algum $$ extra em cursos/palestras sobre o tema. Resumidamente, podem me chamar de tudo, menos de omisso. Tudo com muita transparência e responsabilidade.
Como não tenho interesse em ocupar um lugar no hall da fama dos blogueiros nem virar sócio do Bill Gates, o nº de acessos não me preocupa e só encaminho convites, sem qualquer tipo de publicidade, para pessoas que reconheço como incentivadoras das boas práticas de GC. E mesmo sem a preocupação com o número de visitas (vale registrar que muitos amigos estão indicando a leitura do Blog), surgiram algumas sondagens para transferir o Blog para sites de notícias. Mas preferi manter o voo solitário, com total independência, e oferecer gratuitamente a todos os interessados a reprodução do Blog – algo que já acontece eventualmente na Revista RI-Relações com Investidores – e a oferta de links para outros sites (como semanalmente é feito pelo site www.acionista.com.br). Isso sem falar que alguns temas suscitam o interesse de jornalistas e acabam servindo de inspiração para matérias na imprensa especializada.
E assim segue a caravana, com tímidos protestos murmurados na beira da praia e na WEB. Tem sido muito bom compartilhar com vocês experiências, informações e opiniões, mas sinto alguma frustação por conta da carência de comentários nas postagens; sei que a maioria não gosta de opinar/debater publicamente e opta por me encaminhar diretamente mensagens por e-mail – são vários elogios/incentivos, mas também algumas discordâncias contundentes. Por vezes sou surpreendido em um saguão de aeroporto ou restaurante por leitores do Blog que tecem elogios e também apresentam suas discordâncias; outro dia, um conceituadíssimo gestor de recursos interrompeu o seu almoço, tendo ao fundo a Baía de Guanabara, para me cumprimentar e apresentar a sua discordância sobre o Projeto de Lei 1851/2011 (aquele que busca restringir o uso de termos de compromisso para infrações graves). Excelente, nota 10, mas o ideal seria o compartilhamento de todos os comentários/críticas/sugestões, para gerar o tão desejado debate, lembrando que é possível publicá-los diretamente no Blog sem a necessidade de apresentação do CEP, CPF, CNH, RG e nem e-mail. Fica aqui a provocação.
Mil desculpas pelo longo texto... É só para passar a régua e seguir em frente.
Um forte abraço a todos,
Renato Chaves

Comentários

  1. Parabéns, Renato!

    Em apenas um ano o seu blog já se tornou uma referência em assuntos de governança corporativa.

    Continue assim e sucesso!

    Abs

    Rodrigo Polito

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  2. "Caro Renato Chaves,
    Você é um gigante. Parabéns por sua determinação, disciplina e conhecimento técnico.
    Sem dúvida, você presta valioso serviço à disseminação das boas práticas de GC em nosso país.
    Grande abraço e votos de continuado sucesso.
    Wilton Daher"

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