Conselheiros ocupados.... Será?
A extensa matéria apresentada no jornal Valor do último dia 11 nos faz refletir sobre dois importantes aspectos: (i) até que ponto a atuação em muitos conselhos (3, 5 ou até 8) pode prejudicar a atuação desse profissional e (ii) se deve existir uma ponderação nessa avaliação que considere o fato de existirem conselheiros “profissionais”, com dedicação quase que exclusiva à função de conselheiro – a maioria atua também como consultores.
Quanto ao 1º aspecto, entendo que inicialmente cabe fazer uma “defesa”, quando observamos a participação de um conselheiro em várias empresas de um mesmo grupo econômico. Já vivi a situação e avalio que a atuação dos conselheiros não era prejudicada, principalmente por conta da existência de várias empresas não operacionais: eram obras em andamento, onde o conselho acompanhava o cronograma de execução/orçamento e eventuais desdobramentos, como questões ambientais. Além disso, procurávamos agendar todas as reuniões para o mesmo dia, de forma a não sobrecarregar a agenda de todos os envolvidos – reuniões exigem a preparação de apresentações, análises de dados, etc.
Já a participação de um profissional em conselhos de várias empresas, sem que exista qualquer relação entre elas, preocupa um pouco mais. Mesmo que ele seja um conselheiro “profissional”, que já aposentou as chuteiras de executivo, o tempo necessário à preparação para participar de uma reunião, mesmo que a frequência seja mensal, tem uma relação direta com a complexidade do negócio. Assim, parece razoável que existam “limites”, como aqueles apresentados pelo Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC (o item 2.8.1 cita o limite de 5 posições – confira em http://www.ibgc.org.br/CodigoMelhoresPraticas.aspx).
Por fim, uma provocação: e quando o CEO da empresa onde você investe é conselheiro em empresas que não guardam qualquer relação com o negócio? Por exemplo, o CEO de uma mineradora, com sede no Brasil, que é conselheiro de uma petroquímica que tem sede na Europa..... Os defensores irão argumentar que a experiência poderá trazer benefícios não mensuráveis para a Cia. – outra visão de mundo, ou seja, o cara não vai ficar bitolado no seu “mundinho”, vai “importar” boas práticas.... Já os críticos argumentarão que, diante da remuneração que ganha, o mínimo que se espera do CEO é uma dedicação de 24 horas do seu dia à empresa onde atua como executivo (vale até dormir de pijama com o logo da organização). E se a remuneração de conselheiro for alta certamente as críticas serão maiores. E mais críticas: os tais ganhos não mensuráveis, como relacionamentos externos de alto nível, seriam personalíssimos, a empresa onde você investe jamais irá apropriar-se de qualquer ganho desse tipo... Por fim, se o CEO aceita ser conselheiro por aí, será que ele gostaria que o Diretor Financeiro da organização também dedicasse parte do seu precioso tempo para outro negócio, mesmo que não concorrente? Ele aceitaria, na boa, eventuais ausências do homem que toma conta do cofre?
Acho que o tema merece uma enquete: os executivos devem aceitar posições remuneradas em conselhos de outras empresas, fora do grupo econômico?
Abraços a todos e uma boa semana,
Renato Chaves
Bom dia Renato,
ResponderExcluirQue o tema é delicado, não resta dúvida. Mas um ponto crucial é:
- temos o acumulo de posições por falta de conselheiros preparados ou a concentração não favorece o surgimento de novos quadros?
Creio que sempre seja válido lembrar como eram vistos os conselhos até algum tempo atrás: "um depósito de executivos (normalmente da própria empresa) aposentados."
Obviamente a visão acima embora ainda se encontre em algumas empresas já está superada, mas refletiu na não formação de quadros habilitados para assumirem tais postos.
O trabalho do IBGC e a explosão da abertura de capital de empresas com listagem em níveis de governança deram uma chacoalhada neste mercado.
Abraço,
Denys Roman
Boa tarde Renato,
ResponderExcluirHouve um tempo em que a escassez de conselheiros qualificados até justificaria uma concentração de empresas por conselheiro.
Não penso que este seja o caso atualmente. Até porque o Programa desenvolvido pelo IBGC vem qualificando Conselheiros de Administração e Fiscais para o Novo Mercado.
Penso que a participação de um profissional em conselhos de várias empresas, sem que exista qualquer relação entre elas requer mais atenção.
Abraço,
Alaor Gonçalves
Prezados,
ResponderExcluirExiste uma versão mais detalahada desse material que o VE publicou, disponível free em:
http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1944993
Nela discute-se a possbilidade de níveis ótimos (limutes para o acúmulo de funções) de conexão das empresas.
Os resultados apontam para um percentual ao redor de 1,7% dos laços possíveis numa rede corporativa, como grau de articulação em maximiza o valor de mercado.
Em outras palavras, se considerarmos o ano de 2007, em média, as empresas que constituíram laços com 6 outras empresas tenderam a apresentar maior valor de mercado. Além desse valor, encontrou-se descrtuição de valor.....enfim, acho que talvez interesse, especialmente se estiverem focados na discussão mais aprofundada do tema.
Wesley
Prezados Wesley, Alaor e Denys,
ResponderExcluirRealmente o tema é polêmico. Venho criticando constantemente no Blog os "independentes figurões", que são "escalados" para a composição de conselhos para oferecer uma (falsa) chancela de reputação, muito por conta dos laços de amizade/relacionamento social. Isso acontece especialmente nos IPOs. E o excesso de posições em conselhos de empresas distintas certamente prejudica a qualidade.
Abs a todos,
Renato Chaves