Sua empresa investida tem um diretor/VP de relações institucionais? Todo cuidado é pouco.
Já notaram que toda grande empresa tem um cargo na sua estrutura
de alta direção para tratar de relações institucionais/governamentais?
Segundo a cartilha da Abrig (Associação Brasileira de Relações
Institucionais e Governamentais no link https://static.poder360.com.br/2019/12/Cartilha_ABRIG-Artiaga-Cunha.pdf) seria a
atividade por meio da qual os atores sociais e econômicos
impactados por proposições legislativas (Parlamento), por políticas públicas
(Executivo), por demanda da sociedade civil organizada (terceiro setor) e/ou
pelo mercado (consumidores) fazem chegar aos tomadores de decisões estratégicas
(privado) e políticas (autoridades) a sua visão sobre a matéria (eu incluiria o
mundo jurídico nesse universo), com o intuito de:
·
Mitigar riscos econômicos,
sociais, institucionais ou operacionais;
·
Oferecer modelo mais equilibrado;
·
Apresentar sugestões pontuais
para o melhoramento da proposição;
·
Apresentar fatos, dados e
informações importantes para a melhor compreensão do universo sobre o qual a
medida terá impacto, de modo que o tomador de decisão pondere mais elementos na
formulação de proposição legislativa ou política pública;
·
Alertar para
inconstitucionalidades, injuridicidades (inadequação ao ordenamento jurídico
vigente) e técnica legislativa equivocada.
Em bom português é o lobista (veja mais sobre o tema no link https://www.jota.info/carreira/relgov-relacoes-governamentais-perfil-dos-profissionais-14102021), um sujeito tão caricato que podia ser visto em alguns blocos no
carnaval carioca entre piratas e colombinas.
No mundo jurídico usa-se o termo “embargos auriculares” para definir
essa “apresentação de fatos, dados e informações importantes” (normalmente por intermédio
de documento na forma de memorial) para a melhor compreensão do universo sobre
o qual a medida terá impacto, de modo que o tomador de decisão pondere mais
elementos na formulação das decisões judiciais. Um atentado ao bom senso e à
inteligência, como se o julgador precisasse de alguém para resumir os fatos.
O grande risco dessa atividade reside no fato que tais impactos
normalmente são de grande monta (por vezes multas/autuações milionárias
relacionadas com questões fiscais), o que abre uma “brecha” para que, de um
lado, a empresa tente adotar práticas “não republicanas” agressivas para obter
uma vitória rápida (qual executivo não gosta de um gordo bônus na conta
bancária) e, do outro lado, o tomador da decisão pode se insinuar para receber
alguma vantagem ilegal em troca de um julgamento/parecer favorável. É a chamada
propina, um “faz-me rir”, um café, um jabaculê, uma “molhadela”, um gosto, etc,
etc....
Considerando o grande risco da “operação”, de um lado o agente que
receberá a propina não quer “negociar” com quem não tem poder de decisão; do
outro lado a empresa não quer que seu CEO suje as mãos (os Conselhos de Administração
nunca sabem de nada rsrsrs). Aí entra a figura do VP/diretor de relações
institucionais/governamentais, um sujeito bem articulado, com bom trânsito em gabinetes
de “autoridades”.
Eu cito como exemplo o recente caso da gigante SAP, flagrada
pagando propina na África do Sul, Malawi, Kenya, Tanzânia, Gana, Indonésia e
Azerbaijão (leia mais no link https://fcpablog.com/2024/01/10/sap-pays-doj-and-sec-221-million-to-settle-global-fcpa-large-bait-violations/). Se não tiver um mínimo de organização, incluindo advogados para
criar contratos “criativos” (lembram dos casos da farmacêutica e da companhia
aérea em RJ nos EUA, ambas listadas na B3?), doleiros para empacotar dinheiro
em mochilas, etc., etc. esse sistema não funciona. E tem que ter um
“comandante”.
No Brasil o caso mais emblemático, insuperável em termos de
valores de multas, continua sendo o da Braskem/Odebrecht (veja no link https://brasil.elpais.com/brasil/2016/12/21/politica/1482347716_003844.html)
Abraços fraternos,
Renato Chaves
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