Uma assembleia não precisa ser a apoteose da mesmice: o bom exemplo da Natura
Em que pese o esforço hercúleo da CVM para melhorar a qualidade das informações e facilitar a participação de investidores nas assembleias, os encontros de acionistas no Brasil continuam sendo, salvo raras exceções, eventos burocráticos que se limitam a aprovar as contas ou outros assuntos a “toque de caixa”, sem que os administradores interajam minimamente com seus “patrões”. Atas previamente construídas, sob a batuta de prestigiados e bem remunerados advogados, levam os investidores “comuns” a questionar se vale a pena o deslocamento até a sede social da empresa, por vezes localizadas em uma BR esburacada no interiorzão – essa questão é extremamente relevante e merece uma outra postagem.
Mas nem tudo é sofrimento. A Natura, que tão bem preparou o seu modelo de Governança Corporativa mesmo antes da oferta pública de ações, em 2004, nos presenteou com um modelo de assembleia que merece ser copiado. Tudo começou com um Manual de Assembleia digno de nota na coluna do saudoso Ibrahim Sued: linguagem fácil, respeitando cuidadosamente as determinações da Instrução CVM nº 481, com um projeto gráfico que faz o investidor pensar, por alguns segundos, que está folheando um exemplar de revista da NatGeo. Talvez por conta do entrave legal “lugar de assembleia é na sede da Cia.”, a criatividade levou a empresa a realizar dois eventos: a assembleia propriamente dita, na sede social (localizada na aprazível e longínqua Itapecerica da Serra), e um evento de “apresentação de resultados e planos”, no Espaço Natura Cajamar, com um bate-papo com os co-presidentes do Conselho de Administração, o Diretor-Presidente e todos os VPs. Vale frisar que todo o deslocamento entre SP-Itapecerica-Cajamar foi suportado pela empresa e a ferramenta de procuração eletrônica foi oferecida como opção. O desafio para o próximo ano é realizar os dois eventos em um único ambiente.
Fica a constatação de que a fórmula “transparência/qualidade nas informações + facilidades para o comparecimento + prestação de contas interativa da alta administração = uma assembleia diferente” parece simples.... Fica a dúvida porque não é mais praticada, pelo menos pelas empresas do Novo Mercado.
Abraços e uma boa semana a todos,
Renato Chaves
P.S.: não sou, nem nunca fui acionista da Natura; nenhuma pessoa da minha família atua como consultor(a), mas confesso que uso e mantenho um pequeno estoque de segurança do desodorante Sr.N.
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