Dia 25/6: um marco para o mercado de capitais no Brasil.


(postagem antecipada da semana de 2/7 pelo fervilhar da notícia)


Acabou a novela.

A visão tosca e os interesses pessoais de alguns poucos Administradores sucumbiu diante da pressão dos investidores.

Todos os meus queridos leitores sabem que bato “nessa tecla” desde o início do Blog, em 2010. Sabem também que montei uma carteira de ações bem modesta (uns R$ 5 mil no total com ações de 33 empresas), carinhosamente nomeada como “CDC-carteira de desgovernança corporativa” por incluir empresas que enfrentavam covardemente a CVM, atacada por intermédio de um “instituto chapa branca” em ação judicial. Fui a assembleias, registrei protestos, votei com boletim de voto à distância, abri processos na CVM, tudo em prol da governança, sem interesse financeiro direto.

Patriotismo? Diletantismo? Claro que não. Aqui em casa temos 4 planos de previdência, ou seja, o futuro da família depende do bom desempenho do nosso mercado de capitais. E mercado de capitais não combina com falta de transparência: quem emite ação tem patrão !!!

Curiosidade “estilo Caras”? Assunto para happy hour na Vila Mariana? Nada disso. O que os investidores querem saber é por que o CEO que está saindo (desempenho insatisfatório?) vai receber 3,5 anos de salários por cláusula de não competição, por exemplo.

Vamos a alguns fatos interessantes no acompanhamento da divulgação dos novos formulários de referência:
  • ·        Algumas empresas divulgaram de forma incompleta, como Metalúrgica Gerdau (reapresentou em 28/6), Multiplus (corrigiu em 28/6) e Even;
  • ·        CCR simplesmente ignorou a ordem do xerife e só depositou o novo formulário no dia 27/6 (pode isso Arnaldo?);
  • ·        Algumas empresas tiveram a petulância de protocolar os novos Formulários como documentos de “reapresentação espontânea”. É muita cara de pau;
  • ·        As únicas que classificaram o documento como “reapresentação por exigência” foram Vale, Suzano, Oi e Multiplus.


Pois bem, ainda deu tempo de tabular as informações das maiores remunerações de diretoria de empresas que escondiam a informação, mesclando com outras grandes empresas que divulgavam antes da derrubada da liminar.

Não se trata de um trabalho com rigor científico – deixo isso para os acadêmicos (alô alô turma da FGV, aquele abraço !!!). Que tal avaliar a variação de remuneração x resultado anual? Quem sabe uma comparação das maiores remunerações com a remuneração média de cada Cia? Prometo calcular a relação entre maior e menor remuneração nas diretorias, para identificar o verdadeiros super-homens...

Mas a planilha serve para comparar empresas do mesmo setor, por exemplo. Sem falar que alguns números saltam aos olhos, esbofeteando a cara dos investidores, como bônus de desligamento da ordem de R$ 40 milhões, variações de 300% ano a ano, empresas de educação e supermercado pagando mais que banco, empresa “esquecendo” de informar valores recebidos em subsidiárias (as menores remunerações da lista) e banco gigante escondendo informação sobre benefícios pós emprego.

Parece que os conselhos de administração têm sido muito benevolentes/magnânimos, criando verdadeiros super-homens, novos milionários em um país onde prevalece a desigualdade. Será que um executivo cria valor sozinho, algo que justifique uma remuneração de R$ 52 milhões anuais? Não me venham com o blábláblá de agregação de valor no longo prazo... Os executivos recebem muita grana no presente, tem vida curta no cargo (4 anos segundo matéria de O Globo em https://oglobo.globo.com/economia/executivos-ficam-no-maximo-quatro-anos-na-mesma-empresa-4158527) e colocam uma bolada ainda maior no bolso na hora da saída a título de “cláusula de não competição”.

Resumindo, agora é que começa a verdadeira discussão sobre remuneração.

2017
variação
2016
variação
2015
Alpargatas
7.336.200,00
-19,6%
9.129.100,00
19,2%
7.657.500,00
Aliansce
5.093.285,63
-1,4%
5.166.281,08
-0,7%
5.204.147,56
AMBEV
14.065.113,97
-5,8%
14.930.055,45
-30,1%
21.358.583,28
B2W
8.018.748,00
-17,7%
9.738.814,00
7,7%
9.045.265,00
B3
52.356.632,45
318,5%
12.510.500,88
9,8%
11.392.882,71
Banco BTG
4.700.000,00
-43,4%
8.300.000,00
-19,4%
10.300.000,00
Bradesco S.A.
15.952.500,00
-3,1%
16.470.000,00
13,0%
14.580.000,00
Braskem S.A.
13.115.784,05
93,0%
6.796.177,88
-20,8%
8.576.010,02
BRF
2.640.000,00
-40,4%
4.430.709,40
-61,6%
11.548.000,00
BrMalls
22.871.493,25
-15,8%
27.170.268,35
-19,0%
33.526.515,99
CCR S.A.
12.814.521,11
63,0%
7.859.846,02
-21,1%
9.956.828,59
CSN
4.915.361,00
7,8%
4.560.000,00
101,0%
2.269.191,00
Cielo S.A.
5.586.453,00
-67,4%
17.118.408,00
21,2%
14.124.799,00
Cosan S.A.
4.877.297,67
30,1%
3.749.130,98
14,2%
3.283.678,63
CPFL Energia S.A.
9.701.000,00
10,1%
8.808.000,00
-13,5%
10.186.000,00
Duratex
3.037.094,00
-45,4%
5.566.494,00
-40,1%
9.295.749,00
Embraer S.A.
8.251.211,67
179,8%
2.948.788,95
-82,0%
16.354.692,23
Even
7.439.490,00
#VALOR!
não divulgou
#VALOR!
não divulgou
Fibria Celulose S.A.
7.921.727,70
279,1%
2.089.629,12
-91,3%
23.923.825,74
Gerdau S.A.
422.294,42
-5,2%
445.499,31
-28,3%
621.344,24
GOL
7.527.974,06
12,8%
6.676.601,38
-3,6%
6.929.357,00
Iguatemi
8.086.564,48
43,6%
5.633.089,91
27,0%
4.435.619,65
Itaú Unibanco
40.918.000,00
-43,9%
72.935.000,00
40,2%
52.027.000,00
Itaúsa
5.819.407,00
4,9%
5.549.996,00
28,1%
4.332.000,00
Klabin
10.740.321,66
-3,7%
11.152.363,26
5,8%
10.545.221,99
Kroton
25.475.271,39
-24,6%
33.779.882,18
21,2%
27.871.343,97
Localiza
14.734.656,55
14,7%
12.845.307,12
-11,1%
14.441.931,71
Lojas Americanas
19.105.727,00
-9,7%
21.161.899,00
18,0%
17.934.098,00
Lojas Renner
21.484.446,30
46,1%
14.700.544,28
-32,0%
21.629.238,35
Metalúrgica Gerdau
821.313,15
114,9%
382.153,57
#DIV/0!
0
Minerva S.A.
2.222.797,68
0,0%
2.222.797,68
93,7%
1.147.804,52
Multiplan
19.754.789,06
80,6%
10.940.573,59
14,3%
9.568.995,56
Multiplus S.A.
4.247.863,00
12,0%
3.794.380,00
11,8%
3.393.507,00
Oi S.A.
15.514.475,00
47,7%
10.507.495,00
61,5%
6.507.067,00
Pão de Açúcar/CBD
49.727.847,00
44,1%
34.500.000,00
45,6%
23.689.376,00
Raia
12.334.388,00
14,5%
10.776.473,00
63,4%
6.596.833,00
Rumo
22.801.721,00
319,7%
5.433.292,00
327,8%
1.269.935,00
Santander
29.985.549,15
7,0%
28.013.885,04
30,4%
21.490.643,35
Suzano
11.259.426,87
-29,6%
16.002.746,10
5,4%
15.183.093,15
Telefonica
6.719.912,45
-92,0%
83.846.204,40
191,6%
28.757.353,81
TIM Participações
8.173.653,71
116,0%
3.783.998,38
-21,9%
4.847.257,28
Vale S.A.
58.539.091,15
444,8%
10.745.723,58
-53,2%
22.966.378,00
Via Varejo S.A.
14.524.254,43
46,0%
9.949.640,74
48,3%
6.708.225,06
Médias
14.456.643,21
13.883.851,18
12.749.459,34


O sol é o melhor desinfetante, já dizia um sábio juiz.

Abraços a todos,
Renato Chaves

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