A falácia do discurso de engajamento de “colaboradores”.

No embalo da leitura do livro da excelente professora e palestrante do último Congresso do IBGC Lynn Stout* (The Shareholder Value Myth, ainda sem tradução por aqui), fui conversar com o ex-presidente da CVM Tomás Tosta de Sá, que me apresentou um livro bem interessante: Capitalismo Consciente, de John Mackey e Raj Sisodia (HSM Editora). 

Destaque no livro para um número que desmascara o discurso fácil “estamos todos juntos, somos um time, na nossa empresa vale a meritocracia”, proferido aos 4 ventos por CEOs cheirosinhos: a relação entre remuneração de CEO e salário médio nos EUA era de 42 vezes em 1980, pulou para 107 vezes em 1990, chegando a 525 vezes em 2000. Nos últimos anos, talvez por conta da crise, o número tem flutuado para 325 vezes (medição feita em 2010 pelo Institute for Policy Studies de Washington). Como conseqüência, afirmam os autores, as corporações são “amplamente vistas como gananciosas, egoístas, exploradoras e indignas de confiança”. No bom português: farinha pouca, meu pirão primeiro.

Outro estudo em empresas norte-americanas, do Economic Policy Institute, comentado em 20/6/14 pelo jornal Valor, revela uma relação de 296 vezes.
Algum chute de qual seria a relação no Brasil? Vamos pegar um exemplo: empresa que fabrica loiras geladas, com a maior remuneração da diretoria de R$ 20,694 milhões em 2013 (dados do Anuário de Governança Corporativa das Companhias Abertas-2014 da Revista Capital Aberto); sendo generoso ao imaginar um salário médio dos “colaboradores” de R$ 45.000/ano (R$ 3 mil x 15 salários sendo 2 de PLR) a relação é bem escandalosa – 459 vezes.

Fica o reforço na sugestão que fiz para que a CVM obrigue as empresas de capital aberto a divulgar essa relação, fugindo assim da discussão infinita em torno da famigerada liminar que esbofeteia a transparência. Alias, alguém conhece algum caso de CEO de empresa de capital aberto seqüestrado nos últimos 20 anos? Não vale seqüestro relâmpago/saidinha de banco....

E enquanto CEOs pedem para o time vestir a camisa, eles operam na surdina, sem transparência, para aumentar seus ganhos, com a complacência dos conselhos de administração (onde habitam muitos astutos CEOs aposentados) e o silêncio quase bestial dos investidores. Simples assim.

Abraços a todos,
Renato Chaves


*  um resumo das idéias da professora pode ser conferido na excelente matéria da jornalista Ana Luiza Herzog no portal da Revista Exame (em http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1069/noticias/deem-menos-poder-aos-acionistas).

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