As empresas inimigas da transparência, mas amigas das crianças, do hospital de Caraguatatuba e com “carimbo” de boa governança.

Pois é, queridos leitores, a famigerada liminar que serve de refúgio para os executivos que sonham um dia lançar um livro contanto suas trajetórias de sucesso, ao melhor estilo do “Trio Parada Dura” (aqueles que torram R$ 15 milhões para engavetar investigação de insider trading na CVM), ganhou fôlego com mais uma recente decisão do nobre titular da 5ª Vara Federal. Observação interessante: o tal instituto que patrocina a ação é de executivos financeiros e não de CEOs, e boa parte dos "protegidos" pela liminar são residentes e trabalham em São Paulo e se filiaram ao instituto carioca somente para buscar a tal proteção, alguns após a 1ª decisão do nobre Juiz. É o que se chama de “chapa branca”, que nas palavras de um amigo advogado levantaria dúvidas sobre uma possível fraude processual. Basta perguntar a cada um dos novos filiados onde fica o Bar do Gomez para comprovar a farsa (dica: é com Z mesmo e não fica em Ipanema).

Meritíssimo, sinto informá-lo que o Sr. foi induzido ao erro. Isso porque a informação que colocaria em risco executivos de empresas de capital aberto sempre esteve disponível na WEB. Vejamos o caso da empresa que tem nome de monumento carioca, vive na mídia e outro dia foi acusada de ludibriar consumidores (por prática de preços diferentes entre a gôndola e o registro no caixa). A ata da AGO do dia 17/4, publicada no site da CVM, afirma que a remuneração global anual da Diretoria será de até R$ 33.857.161,91. Considerando que empresa tem 8 diretores a divisão simples revelaria que cada um irá receber até R$ 4.232.145,23 !!! Mas vamos imaginar que o potencial sequestrador é um expert em governança corporativa que sabe que o diretor presidente recebe mais do que o restante dos diretores. Que tal 30% a mais, para sermos conservadores? Isso daria uma remuneração anual de R$ 5.302.928,97 para o presidente e R$ 4.079.176,13 para os demais diretores !!! Algum deles foi sequestrado? Não, nobre Juiz. E algum CEO de alguma empresa de capital aberto foi sequestrado? Não, nobre Juiz. E todos nós sabemos a razão: montar uma estrutura para sequestrar um executivo é cara e em dois minutos os BOPEs da vida irão às ruas para elucidar o caso. Sob a ótica de risco/retorno o sequestro relâmpago, na porta de agências bancárias, é mais eficiente, segundo os jornais.

E o pior é que 29 dessas empresas covardes, que não tem a coragem de acionar diretamente a CVM, compõem o Ibovespa (quase 50% das empresas do índice !!!), ou seja, a nata do mercado, o "ó do bobó" sob a ótica da liquidez/valor de mercado. Mas sob a ótica da transparência a nata vira lama.... e não adianta falar que é do nível 2³ de listagem, que patrocina congressos de governança e é filiado aos institutos da vida, pois o que vale não são as palavras, os carimbos e os banners, mas sim as atitudes. Nesse caso, a empresa que se esconde covardemente atrás de uma liminar, muitas vezes à revelia dos seus conselhos de administração, é inimiga da transparência.

Lá fora a revolta dos investidores ganha força. Uma linha de atuação tem sido comparar as remunerações galácticas dos executivos com a remuneração do funcionário comum: na British Petroleum, ex-CEO chegava a ganhar 63 vezes mais que funcionário comum, segundo o NYT !!! Um absurdo, afirmava a reportagem. Por aqui, sabendo que alguns executivos chegam a ganhar R$ 4 milhões/ano, não é difícil imaginar que essa relação passa de 300 vezes.

Abraços a todos e uma boa semana,

Renato Chaves

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